The Caravan District

[Luke]

Em um dia quente desses, muito parecido com todos os dias do ano, o Mercado estava cheio como sempre. Uma grande confusão de gaiolas de animais, carroças transportando pessoas ou caixas cheias de mercadorias exóticas e com mercadores gritando ofertas para todos os lados.

Depois de correr pelo meio da rua, atravessando o caminho de várias pessoas, ser quase atropelado por duas carroças e derrubar no chão algumas placas que pareciam carapaças de animais trabalhadas por um artesão, o garoto finalmente parou para recuperar o fôlego.

Era um menino de não mais de 10 anos, roupas esfarrapadas e que parecia apenas carregar uma bolsa de couro na mão direita, seu único pertence, e nem botas ele usava.

O garoto olhou para trás e pareceu um pouco aliviado, mas logo voltou a correr. Tinha tanto medo que olhou novamente para trás enquanto corria e nessa hora acabou se chocando com Cassandra, que apenas era mais uma a andar no meio daquela multidão. O menino então foi ao chão, puxando a bolsa de couro para junto do corpo e enquanto caia já começava a falar.

- Desculpe, desculpe, eu não queria... - mas logo sua voz foi abafada pela voz de dois homens que vinham correndo atravessando a multidão atrás do garoto.

- Segurem esse ladrão!

[Cassie]

Cassandra seguia satisfeita pelo mercado, cantarolando mentalmente uma canção nova que, ao que parecia, não queria desgrudar de sua cabeça. Com os dedos de sua mão direita, tocava discretamente as notas da melodia em sua perna, fazendo dela um instrumento imaginário. Depois de perambular um pouco sob o sol inclemente, havia comprado as cordas novas que precisava para sua lira e um pouco de óleo para fazer a manutenção dos seus instrumentos. Também havia experimentado uma iguaria exótica - e deliciosa - sobre a qual havia lido e sempre quis experimentar, enquanto assistia as acrobacias impressionantes de um grupo de artistas de rua. Enfim, no geral, sentia que aquele era um bom dia.

Isso tudo se interrompeu quando ela viu que havia uma confusão sendo causada mais a frente. Tentou esticar o pescoço para enxergar melhor e antes que pudesse realmente entender o que se passava, sentiu o choque do menino contra si. Surpresa, olhou-o enquanto ele caía, mas a tentativa de compreensão logo foi respondida pelo grito dos guardas. Registrou rapidamente as roupas esfarrapadas, a pouca idade e o jeito como falava com ela e, sem pensar duas vezes, puxou o menino pela mão para levantá-lo e sussurrou próximo ao seu ouvido "Confie em mim". Procurou avaliar a distância dos guardas pelo grito e tomou uma decisão:

1) Se os guardas aparentarem estar distantes o suficiente para esconder o menino:

Guiará-lo com a mão em seu ombro para fazê-lo andar à frente dela e começará a andar rapidamente em direção oposta à voz dos perseguidores, procurando um lugar onde possa tirá-lo de vista.

2) Se os guardas aparentarem estar muito próximos para isso:

Aguardará por eles com a mão sobre o ombro do menino, caso ele ouvi-la e não sair correndo.
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Cassie makes a Perception Check - para avaliar a distância da voz dos guardas
Cassie makes a Perception Check - para procurar um lugar para esconder o menino caso seja possível escondê-lo

[Luke]

Cassandra Rolls 5 (3) on Perception Check
Cassandra Rolls 8 (6) on Perception Check

Pelo som, Cassandra decide por tirar o garoto de vista e leva-lo para um lugar seguro, mas pelo visto o barulho da multidão acabou por enganar a jovem, que se surpreende quando uma mão puxa seu ombro enquanto ela tentava se afastar.

- Eu disse para segurar o garoto, não me ouviu?! - disse o guarda, irritado. Seus trajes não eram da guarda da cidade, mas pelo visto pertencia a alguma casa mercante.

[Cassie]

(Por essas e outras que eu odeio não ter Perception alta...)


Cassandra se surpreendeu com o guarda, mas procurou usar isso a seu favor:

Cassie makes a Bluff check

- Ah, me perdoe, foi tudo tão rápido, o menino esbarrou em mim e fiquei confusa por um momento, achei que ele estava vindo da outra direção! Que cabeça a minha! - blefou, dando seu sorriso mais cândido enquanto se voltava para o guarda e mantinha uma mão sobre o ombro do menino. - Estava tentando levá-lo direto ao senhor! Me perdoe!

Cassie uses Words of Friendship (+5 on diplomacy tests)
Cassie makes a Diplomacy check - para ganhar a simpatia dos guardas e convencê-los a deixá-la intermediar/participar da resolução da situação.

- Agora, por que os senhores não me põem a par do que aconteceu e resolvemos isso civilizadamente? Ele está tão assustado! - olhou brevemente para o menino - A Duquesa de M. diz que eu tenho uma queda por crianças e acho que ela tem razão... - deu um sorriso adoravelmente culpado. - O pobre menino é só uma criança, tenho certeza de que seja o que for que esse rapazinho tenha feito, não foi por maldade, náo é mesmo? Todos nós cometemos erros nessa idade! - alternava o olhar entre um guarda e outro, mantendo contato visual como se estivesse tento uma conversa íntima com cada um deles, como se fossem velhos amigos.

[Luke]

Cassandra Rolls 16 (6) on Bluff Check

- Ah, menos mal. Obrigado pela ajuda, senhorita - a desculpa de Cassandra pareceu satisfazer os guardas e um deles até sorriu em agradecimento a sua cooperação. Depois disso, o outro guarda agarrou o braço do garoto e puxou.

Cassandra Rolls 31 (14+5) on Diplomacy Check (Jesus)

- O problema é que esse bandidinho resolveu roubar enquanto fingia trabalhar para nosso patrão - disse o homem que segurou o garoto. - E agora vai perder uma mão como manda a lei, sendo criança ou não - e completou retirando sem dificuldade a bolsa de couro da mão do menino.

[Cassie]

(Apelei, vai que o Bluff não rolasse xD)

- Nossa, mas ele é só uma criança... - mirou o menino de alto a baixo - e parece bem pobre ainda. Com certeza, roubar não é a coisa certa a fazer, mas se você cortar a mão dele, que chance que ele vai ter na vida de ser outra coisa senão um bandido? Olha, porque não fazemos o seguinte: levem a bolsa de volta, como devem, e deixem que eu tome responsabilidade pela criança. Vou cuidar para que ela não roube mais e garantir que ela nunca mais incomode seu patrão. Todo mundo merece uma segunda chance - deu uma piscadinha simpática para o menino, acompanhada de um sorriso e voltou o olhar novamente para os guardas. Tinha um jeito gracioso ao falar e seu olhar era gentil.

Cassie makes a Diplomacy check

[Luke]

Cassandra Rolls 16 (4) on Diplomacy Check

- Ei, nós já pegamos a bolsa de volta, faça o que a moça está pedindo - o outro guarda falou para o homem que segurava a criança.

- Bom, se a senhorita insiste - disse o homem, largando o garoto e já se afastando. - Mas mantenha esse moleque longe da Casa Shom, senão da próxima vez nem a senhorita vai salvar o pescoço dele.

E o outro guarda seguiu seu companheiro, dando um sorriso e uma saudação para Cassandra. Pelo que a jovem conseguiu entender, os guardas perseguiram o garoto desde o Merchant Distric.

[Cassie]

Cassie fez uma breve reverência em agradecimento:

- Até logo, senhores - sorriu e acenou de volta para o homem.

Depois que os guardas se afastaram, Cassandra soltou um suspiro aliviado e se voltou para o menino:

- Então, por que a gente não vai comer alguma coisa e você me conta melhor o que aconteceu? - perguntou em um tom de voz alegre.

- Aliás, como você se chama mesmo? Eu me chamo Cassie... - começou a andar em direção a algum lugar mais tranqüilo, onde o garoto pudesse comer e eles pudessem conversar calmamente.

[Luke]

- Obrigado, a moça já fez mais do que precisava! - disse o garoto, contente com a oferta de comida e tratou de seguir a jovem para onde quer que ela queira levá-lo. - Os garotos me chamam de Ron mãos-rápidas, você pode me chamar de Ron.

(Vc é criativa, pode escolher uma barraquinha do seu agrado)

[Cassie]

- Você quase virou Ron Maneta hoje, Ron... - Cassandra observou, franzindo a testa levemente em preocupação.

Decidiu visitar a taverna Inix Dourado, não muito longe dali, e foi conversando amenidades com o garoto. O que ele gostava de comer, quantos anos tinha, se havia nascido em Tyr ou em outro lugar... ouvindo as respostas com atenção e observando-o de maneira discreta.

Cassie makes an Insight check

Procurou tirar da memória com o que a Casa Shom trabalhava e lembrou-se de uma vez que parou no estabelecimento deles para olhar alguns produtos artísticos expostos. Lembrava-se de ter visto um lugar para venda de armas também e uma conversa entre o vendedor um comprador sobre algumas matérias primas.

Entrando no estabelecimento, disse para Ron escolher a mesa, onde sentou-se, acenando em seguida para uma das atendentes.

- Oi, Miranda! - cumprimentou-lhe quando a moça se aproximou deles.

- Boa tarde, senhorita Cassandra, o que vai querer hoje?

- Um chá de Kola para mim e o que o rapazinho aqui escolher também. Já sabe o que vai querer? - perguntou à Ron. - O especial de Inix daqui é delicioso, mas tem outras opções gostosas também.

Esperou o menino fazer seu pedido e a atendente se afastar para voltar a conversar com ele.

- Hm... - deu um suspiro satisfeito - o chá de Kola daqui é muito bom. Mas me conta Ron, o que houve realmente? Se você estava trabalhando lá, por que foi roubar seu patrão? - não tinha um tom acusatório ou de censura, perguntava com interesse, querendo ouvir a versão do menino sobre a história. Novamente, prestando atenção para identificar se ele estava sendo honesto com ela ou não.

Cassie makes an Insight Check


(Fiquei na dúvida se poderia fazer esses dois insights checks no msm post, qlq coisa vc me corrige...)

[Luke]

Enquanto conversava com o garoto, notou que ele era uma criança esperta, mas que não tinha maldade nas ações. Provavelmente pensou que o roubo devia ser apenas uma travessura, sem saber quais consequencias iria encontrar caso fosse pego.

- A verdade é que eu não queria roubar nada, mas o homem que flutuava atrás do vidro me disse que se eu não pegasse alguma coisa para distrair os guardas eles não iam me deixar sair de lá com o presente que ele me deu - o termo que ele usou para se referir a esse homem soou bem estranho aos ouvidos da jovem, mas o menino continuou seu relato. - Ai guardei o presente em um saco - e ele então puxou uma bolsa presa ao seu pescoço por uma tira de couro. - E deu certo, já que eles só se importaram em levar a bolsa que peguei quando eles estavam vendo. Eu ia largar ela pelo caminho e fugir, mas ai esbarrei em você e eles me pegaram.

[Cassie]

Cassandra ficou um pouco surpresa e um pouco preocupada com o relato. Bebericou um pouco o chá, se dando tempo para pensar em como continuar a conversa sem assustar ou espantar o menino. Ficou imaginando que tipo de homem atrás do vidro era esse, se poderia ser algum tipo de magia ou poder psiônico ou ainda algo completamente diferente.

Cassandra makes a Arcana check

- Você sabe que se tivesse sido pego teriam cortado sua mão, não sabe? Foi muito perigoso o que você fez... - falou como uma irmã mais velha preocupada. - E como você conheceu o homem atrás do vidro? Algum motivo especial para não te deixarem sair de lá com o presente que ele te deu? Afinal, é um presente, não é?

[Luke]

Casandra pôde sentir uma pequena energia arcana vinda daquela bolsa, mas algo dizia a ela que era uma magia muito diferente do que ela costumava sentir nos poucos objetos mágicos com os quais já havia se deparado.

- Mas... Eu tinha um plano! - disse Ron, tentando argumentar, parecendo ansioso para justificar suas ações. - Mas ai você me atrapalhou e depois me salvou, então tudo deu certo, não é?

- Esse homem ficava preso dentro de uma sala da casa... Era uma sala escondida, já que eu só aprendi a entrar lá por acidente. Quando entrei, vi o homem lá, flutuando dentro de uma caixa de vidro, foi incrível! - e ele estava contando de olhos arregalados. - E ele falou comigo, de dentro da caixa! Mas isso já tem duas semanas e eu ia lá quase todos os dias pra conversar com ele. Acho que ele se sentia muito solitário dentro daquela caixa o tempo todo... E hoje ele resolveu me dar esse presente - e então ele puxou o conteúdo da bolsa e Cassandra viu que era apenas uma concha, mas não era uma concha igual as dos caramujos que costumavam aparecer perto do lixo que ficava nas ruas. A concha era um pouco maior, sua cor predominante era o branco, mas ela podia ver todo tipo de cor enquanto a luz passava pela concha. - Ele me deu para que eu pudesse ouvir o mar, foi o que ele disse. Disse para eu esconder, pois se achassem eles iam tomar de mim, porque era algo muito valioso. Mas moça, que é esse mar?

[Cassie]

Cassie tentou pensar se já tinha ouvido falar de uma pessoa aprisionada ou vivendo dentro de uma caixa como o menino havia descrito, fora toda a história sobre o mar, igualmente intrigante.

Cassie rolls an Arcane Check
Cassie rolls a History Check

Sentiu uma compulsão por fixar o olhar no item, mas se segurou e se concentrou no rosto de Ron.

- O mar... - apoiou o rosto na mão fechada, lembrando o que havia lido a respeito e pensando numa boa maneira de explicar - Bom, o mar já foi uma imensidão sem fim de água salgada que começava onde a terra acabava... Mas ele secou e hoje em dia é um lugar muito perigoso, feito de uma areia muito, muito fina que flutua no ar e um chão que não suporta o peso de uma pessoa... por isso hoje aquele lugar chama Mar de Sedimentos. Dizem que não dá para enxergar mais que uns palmos na sua frente quando você entra nele e a areia que flutua acaba entrando nos seus olhos e nariz... por isso é tão perigoso assim, isso sem contar os monstros que dizem que vivem por lá. Ninguém nunca conseguiu atravessá-lo - terminou o relato e deu uma pausa para o menino processar a informação, bebericando mais um pouco do chá.

- Talvez essa concha tenha sido de algum caramujo que viveu no mar um dia - continuou. - Você já tentou ouvir o mar com ela? Posso dar uma olhada? Não vou tirá-la de você, prometo - seu tom e seu olhar eram sinceros. (No caso dele permitir, vou fazer um Arcane check. Se não deixar, eu posto na próxima)

Cassandra pensou em se oferecer para ajudá-lo a saber melhor o que o item faz, ou mencionar que o item poderia ser perigoso... mas achou o lugar público demais para se expor assim e também não queria preocupar o menino sem necessidade. Contudo, só o fato dele ter um item mágico não era boa coisa. Se ela percebeu o item dentro da bolsa, com certeza outras pessoas perceberiam.

Entre as muitas dúvidas que corriam na cabeça da jovem, uma delas era marcante: se o homem fica dentro de uma caixa de vidro, como ele conseguiu dar esse presente pra Ron? Porém, optou por uma pergunta mais segura:

- O que você e o homem no vidro conversavam? Ele te contou como foi parar lá?

[Luke]

Mesmo depois de analisar a história do garoto durante algum tempo, nada lhe ocorreu. Depois de toda aquela explicação, o menino ficou pensando e quando ela mencionou o mar como sendo "Mar de Sedimentos", ele franziu a testa e tentou se lembrar de alguma coisa. Quando ela pediu para ver o item, o garoto não viu problema e prontamente lhe passou a concha.

- Sim, ele disse que foi trazido para cá contra a vontade dele. Disse que tinha saudades de casa, mas falava de coisas estranhas. Ele dizia que tinha saudade de... Como era a palavra mesmo? - ele ficou pensando por um tempo e então se lembrou. - Nadar! Ele disse que tinha saudade de nadar pelo mar. Só que ele nunca falou nada desse mar de sedimentos, uma vez ele chamou esse mar de Mar Azul.

[Cassie]

Cassandra pegou a concha e começou a analisá-la melhor, tentando entender que tipo de coisa poderia fazer.

Cassie makes a Arcana check

Quase deixou o objeto cair de sua mão por um momento, quando ouviu o que Ron disse. Cada vez mais preocupada com o que o garoto ia contando, procurou dar uma olhada discreta ao redor, para ver se alguém parecia estar observando ou se poderia ouvi-los.

Cassandra makes a Perception Check

- Ron... - disse num tom baixo e sério, embora mantivesse o rosto impassível, como se estivesse conversando sobre qualquer coisa - tudo isso que você está me contando... você contou para mais alguém? Talvez seja perigoso se alguém souber que você conversou com esse homem.

A garota sentia vontade de perguntar muitas coisas, mas começou a sentir medo de conversar sobre aquilo num lugar tão público.

[Luke]

Apesar de compreender que aquele objeto era mágico, não ocorreu nenhum tipo de gatilho para ativar o tal item. Pelo visto, a melhor sugestão tinha sido a do próprio homem, quando disse que o garoto poderia usar aquilo para ouvir o mar.

- Não, não falei. Ganhei essa concha hoje mesmo - pensou por um tempo. - Acho que falei do homem pros outros garotos, mas quando falei que ele flutuava ninguém acreditou em mim...


Cassandra Rolls 17 (15) on Perception Check

Enquanto passava o olhar pelas redondezas, Cassandra não notou ninguém prestando atenção à sua conversa com o garoto. Na verdade, o lugar estava tão barulhento que pelo visto ninguém ia conseguir ouvir bem o que eles diziam, mesmo que tentassem.

[Cassie]

- Bom, acho melhor não contar para mais ninguém, pelo menos por enquanto, está bem?

Um pouco mais tranqüila em relação à privacidade deles, se atreveu a fazer algumas outras perguntas:

- Sobre o homem... ele disse como se chamava ou de onde tinha vindo? Ou sobre quem prendeu ele? E como ele conseguiu te dar o presente estando preso no vidro?

Depois de ouvir as respostas do menino, resolveu testar e por a concha sobre a orelha. Seu coração palpitava um pouco, com medo do que poderia acontecer.

[Luke]

- Tá bem, não falo mais disso pros outros - disse o garoto, sem dar muita importância para tal segredo. - Eu não me lembrei de perguntar o nome dele. Era bem difícil entender o que ele queria dizer. Tinha dias que ele só falava sobre a casa dele e eu não entendia quase nada, as vezes ele só me ouvia falar e alguns dias nem isso. A parte mais estranha foi quando ele me deu essa concha! Hoje eu cheguei lá e ele estava com a concha na orelha, falou pra mim que aquilo era um presente e depois foi muito estranho! - o garoto falava rápido e de maneira empolgada, pelo visto a cena realmente o deixou maravilhado.

- Ele colocou a concha na palma da mão dele e durante um momento ela começou a girar e desapareceu! Um segundo depois uma gota de água apareceu no ar e ela foi crescendo até virar uma bola de água com a concha dentro! A bola estourou e a concha caiu molhada na minha mão, foi incrível!

E ao colocar a concha no ouvido, Cassandra ouviu um som muito diferente de tudo aquilo que ela estava esperando. Era um barulho que parecia com o som de um jarro de água sendo despejado em um copo, mas ele parecia muitas vezes mais alto e ao mesmo tempo muito mais profundo. Ia e vinha sempre o mesmo som, mas nunca igual. Ela sentiu sentimentos diferentes, não sabia o que era, mas no fundo, sentiu uma grande saudade, sem nem saber do que aquilo se tratava.

[Cassie]

Cassie sentiu algo descendo pelo seu rosto e, quando passou a mão por reflexo, percebeu que o dorso da sua mão estava molhado.

"Lágrimas?" - pensou, surpresa e sem entender muito bem. Depois percebeu que sim. Algo naquele som lhe trazia um sentimento de tristeza e perda tão grande e inexplicável. Um sentimento de alegria doída, como se reencontrasse parte de algo querido mas perdido para sempre, como a carta carinhosa de um amigo que já morreu. Por um momento, veio a imagem de Leon conversando com ela, anos atrás, e aquele sentimento de saudade por ele reacendeu, mas não, não era isso o que ela sentiu ouvindo a concha. De algum jeito inexplicável, era maior, diferente. Uma dor que não sabia por em palavras.

Tirou a concha do ouvido e sentiu mais algumas outras lágrimas rebeldes tentando escapar dos olhos, que limpou rapidamente, procurando evitar que Ron as percebesse. Depois estendeu a concha para o menino, sem olhar diretamente para ele.

- Aqui, Ron - pigarreou, ajeitando a voz que havia saído meio embargada - guarde com cuidado. E lembre-se, não saia dizendo por aí como você ganhou isso, está bem? Pode ser muito perigoso, de verdade.

Ficou em silêncio por alguns instantes, tentando se recompor e foi aí que decidiu.

"Preciso conversar com esse homem. Seja ele quem for, realmente preciso!"

- Ron, como você fazia para entrar na sala do homem atrás do vidro?

[Luke]

- Você ficou triste? - perguntou o garoto, confuso. Olhou para a concha que pegou de volta. - Eu acho que não quero um presente que me deixa triste. Aqui, pode ficar com ela, moça, a concha é bonita, é só você não colocar ela no ouvido que não vai ficar triste de novo. E as moças gostam de coisas bonitas, não é? - e empurrou a concha de volta para as mãos de Cassandra.

- Bom, chegar até a sala dele não era difícil, eu só precisava passar pela cozinha, seguir para a sala de armas e lá dentro era só empurrar o armário de lanças que escondia o caminho para a sala dele. Descobri isso enquanto limpava a sala no meu segundo dia.

[Cassie]

Cassie sorriu.

- É um presente muito bonito Ron, e é muita gentileza sua, mas ele não foi dada para mim, mas para você - pegou a concha e devolveu às mãos dele. - Não poderia aceitá-lo.

Fez uma anotação mental sobre o caminho: "Cozinha, sala de armas, armário das lanças".

- E ninguém vigiava lá?

[Luke]

- Então tudo bem, eu acho - e assim guardou a concha devolta a sua bolsa. - Dentro da sala de armas não, mas eu trabalhava lá, então estar lá dentro era meu trabalho - respondeu.

[Cassie]

- Falando nisso, o que você está pensando em fazer agora? Vai tentar conseguir outro emprego? Aliás, você tem família aqui? - perguntou.

[Luke]

- Nessas últimas semanas eu vivi na casa Shom, o prédio não era muito grande, mas os outros empregados disseram que aquela não era a casa que o patrão mora, só a que ele usa quando vem pra cidade - depois deu de ombros, como se fosse falar de algo sem muita importância. - Eu tenho mãos rápidas, então não passo fome. Teve um homem uma vez que me pegou mexendo em sua bolsa, pensei que ele ia me dar um tapa, mas ele só deu dois tapinhas na minha cabeça e disse para procurá-lo se quisesse deixar de ser só mais um mãos-leves. Acho que vou procurar por ele e ver se tem algo pra mim.

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